Pode ser uma dor incomodativa na anca e perna ou uma sensação de dormência abaixo do joelho. A dor ciática ocorre quando existe uma perturbação na função do nervo ciático, os maiores nervos do corpo humano que ligam a parte inferior da coluna vertebral ao pé.

Esta manifestação clínica “pode ser muito incapacitante e causar muito sofrimento”, explica ao Viral Henrique Jones, médico especialista em ortopedia e medicina desportiva. 

“A dor é provocada por uma irritação, compressão ou outro tipo de dano nas raízes do nervo ciático. O sintoma mais comum da dor ciática é o desconforto na parte posterior da coxa, perna ou pé, que pode ser muito pior que a dor nas costas que o acompanha”, prossegue o especialista.

Além da dor, a ciática pode também manifestar-se sob a forma de formigueiro, dormência ou fraqueza na perna ou no pé.

Normalmente, ocorre apenas num dos lados do corpo e surge, “muitas vezes”, em pacientes com “historial prévio de dor lombar alguns dias ou semanas antes”.

O que causa a dor ciática?

Uma das causas mais frequentes de dor ciática é a existência de uma hérnia discal – uma alteração do núcleo pulposo entre os discos da coluna vertebral, que leva à compressão do nervo. 

Mas esta não é a única causa. Henrique Jones sublinha que a dor ciática pode ocorrer na sequência da “compressão em qualquer nível do trajeto do nervo”, devido à existência de “um tumor” ou de “alterações das artroses vertebrais”.

A ocorrência de lesões ou de fraturas pélvicas, assim como casos de síndrome de piriforme – um distúrbio que envolve o músculo estreito das nádegas – ou de espondilolistese – uma patologia que se caracteriza pelo deslizamento das vértebras da coluna –, estão também entre as causas da ciática.

Segundo a Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, “os homens entre os 30 e os 50 anos têm maior probabilidade de ter dor ciática”. Nas mulheres, a probabilidade de sofrer de dor ciática aumenta durante a gravidez.

O ortopedista consultado pelo Viral explica que esta situação se deve “ao aumento de peso e à alteração da postura da coluna lombar com o acentuar da lordose (curvatura anterior)”, ambos relacionados com o crescimento da barriga característico da gestação. Pode também estar relacionada com “alterações alimentares e défice de vitaminas e minerais”.

Apesar de não ser identificado como uma causa, o sedentarismo pode também estar associado a um aumento de casos de ciática. 

Henrique Jones lembra que inatividade está associada a “más posturas, fraqueza muscular, desconforto articular, défice de flexibilidade e aumento de peso”, o que poderá fazer com que o “nervo ciático se torne um alvo de sofrimento”.

Como prevenir a dor ciática?

Quando se fala de problemas associados à coluna vertebral, a prevenção é crucial. Tendo em conta que a hérnia discal surge como uma das principais causas para a dor ciática, evitar as más posturas e esforços sobre a coluna é uma atitude prudente para prevenir alterações no nervo ciático.

Segundo a Associação Americana para a Cirurgia Neurológica (AANS, na sigla inglesa), “uma única tensão ou lesão excessiva pode causar uma hérnia de disco”.

A mesma fonte refere também que, à medida que se envelhece, “o material do disco degenera naturalmente”, tornando mais fracos “os ligamentos que o mantêm no lugar”. 

“À medida que esta degeneração progride, uma tensão relativamente pequena ou movimento de torção pode causar a rutura do disco”, explica ainda a AANS.

Henrique Jones destaca a importância de adotar “posturas corretas em repouso e aquando do esforço, sobretudo no transporte ou mobilização de cargas”. 

Por exemplo, se pretende levantar um objeto muito pesado, deve sempre fletir os joelhos, manter a coluna direita, e utilizar a força das pernas para se erguer.

Também a “prática de exercício adequado à condição física e ao escalão etário” e o reforço dos “músculos laterais da coluna” pode contribuir para uma melhor saúde da coluna vertebral e, por conseguinte, do nervo ciático.

“Mudanças frequentes de posição, exercícios de flexibilidade e correção da postura aquando do trabalho no computador e telemóvel – quer na cervical, quer lombar – evitam patologias emergentes”, afirma ainda o ortopedista, dando como exemplo as alteração na curvatura da coluna associada à utilização de aparelhos tecnológicos. 

O especialista refere ainda que a hidroginástica, o pilates e a dança são “exemplos de exercícios recomendados” na prevenção da ciática.

Em caso de dor, como aliviar e tratar?

Numa primeira fase, existem algumas técnicas que poderá fazer em casa para aliviar a dor ou dormência associada à compressão do nervo ciático. Apesar do desconforto, o movimento é um dos principais conselhos para quem sofre de dor ciática.

O serviço de saúde britânico (NHS, na sigla inglesa) desaconselha os pacientes a ficarem “sentados ou deitados por longos períodos”, dado que o movimento “pode ajudar” a aliviar os sintomas. 

As recomendações do NHS passam por “continuar a fazer as atividades normais, dentro do possível”, e fazer “exercícios regulares para a ciática”, começando por “exercícios suaves”. 

Um tratamento à base de calor pode também trazer alguma atenuação da dor, mas é preciso alguma cautela. Poderá recorrer aos pacotes terapêuticos de calor, que estão disponíveis na farmácia, mas deve evitar botijas de água quente ou outros mecanismos de calor caseiros.

Uma vez que a zona onde vai aplicar o calor poderá estar dormente – e, por essa razão, menos sensível à temperatura –, estes utensílios e aparelhos caseiros podem estar demasiado quentes e provocar queimaduras na pele.

Henrique Jones destaca ainda que, numa fase inicial, o alívio da dor passa por repousar “numa posição de conforto (normalmente com os joelhos fletidos e apoiados em almofadas)”. 

Se preferir deitar-se de lado, poderá colocar a almofada entre as pernas.

Poderá ainda recorrer à “administração de fármacos analgésicos potentes, anti-inflamatórios, relaxantes musculares ou neurotróficos”, refere o ortopedista. No entanto, a utilização de medicamentos deve ser aconselhada por um médico ou farmacêutico.

Se a dor for muito intensa ou persistir por mais de quatro ou seis semanas, poderá ser necessário consultar o seu médico e realizar exames de diagnóstico para identificar o que está a provocar o sofrimento do nervo ciático. 

Além dos sintomas sensitivos e motores, casos mais graves de ciática podem também estar relacionados com alterações ao nível do sistema urinário e gastrointestinal.